A PROFESSORA MAIÚSCULA

Maria Antônia Tedesco

Em seu livro Sagarana, no conto A hora e a vez de Augusto Matraga, Guimarães Rosa diz que; o sapo não pula por boniteza, mas por precisão.

Tenho orgulho de mim!

Em que pese inevitáveis fracassos que a vida prega, mas que, mesmo assim, serviram para moldar o meu ser, em todos os sentidos, tenho orgulho de mim e é assim que me sinto; me perdoem a imodéstia aqui, nesse caso.

Desde o ensino primário, adolescente depois, no ginasial, percebi que assimilar aprendizados seria a única trilha a seguir, como forma única para superar os obstáculos próprios da caminhada que viria; dogma esse incutido pelos meus zelosos pais.

Daí porque, certamente influenciado por nhá Terezita Cañete, minha mãedrasta, professora, tenho admiração e o maior respeito por quem se dispõe à difícil missão de distribuir lições; sejam elas nos bancos escolares ou na vivente vida vivida, sim, vivente, pois a gente encontra por aí muitos seres vagantes, supostamente vivos, sem conteúdo, como se natimortos fossem.

Eis aí porque, lembro com gratidão, dos professores de escola, e os fora dela também, que me impactaram, refletindo na minha jornada e entorno, desde sempre, que carrego até hoje.


Há longe no tempo passado, desde que o tempo deixou de registrar o tempo do tempo:
Em Foz do Iguaçu, quando por lá morei, pude desfrutar dos ensinamentos do sargento Rogaciano e de Aglael uma alemã descendente, de conduta quase prussiana nos ensinamentos.


Aqui em Presidente Epitácio, neste torrão no oeste do estado de São Paulo, onde, entre idas e vindas, ainda moro, tive a honra de poder contar com a enxurrada de ensinamentos que me foram transmitidos por inúmeros mestres, mas alguns tem lugar de honra na minha galeria, entre eles o doutor Pedro Benjamim Vieira.

Do doutor Pedro e do professor Rogaciano, paraguaio, sargento no exército brasileiro, ambos, mestres na língua portuguesa, baixinhos na estatura, mas gigantes no conhecimento, guardo na memória uma enorme gratidão, pelas suas influências na minha compreensão e no expressar, quando na escrita por meio da língua pátria; não aprendi mais por pura incompetência.
Embora pautada para seguir o rigor léxico e sintático, essa narrativa é escrita em estilo vintage, que é uma palavra moderninha para definir o que é velho; onde, claro, erros são possíveis e esperados na redação desse recorte.

Assim sendo, naquilo que me foi dado participar no contato com os mentores de então, direciono os refletores da galeria da minha memória, do meu coração e da minha alma para uma professora ímpar; que me assistiu na formação curricular.

Elegante, quando pisava no limiar de entrada, usava o giz que trazia e dava dois ou três toques no batente da porta, ou nesta, o silêncio se fazia e ela iniciava o show didático e de conhecimento, soberanamente.

Postura soberba, olhar penetrante e atento, quase sempre com um giz na mão, ela o usava para dar os sistemáticos toques na mesa, porta, lousa ou qualquer objeto que pudesse emitir som, visando chamar a atenção dos mentorados; detalhe esse que se fixou e, ocasionalmente, vem à minha mente, inexplicável e inesquecivelmente.


Claro, nada disso transcendendo à sua didática e elogiável conhecimento da matéria que lecionava.
Trazia e nos contemplava com seus cântaros de inesgotáveis aprendizados, falando sobre o universo, mapa-múndi, cirrus, nebulosas, cumulus e outros tipos de nuvens, pontos geográficos, relevo, recursos naturais, países, povos, costumes, compreensão da relação tempo versus espaço, interação com o ecossistema da natureza, e de todo o contexto da matéria na qual era titular.


Sua postura serena mas austera ao mesmo tempo, fazia marmanjos como eu e outros, anestesiados, serem dominados por aquela ainda jovem senhora, transferindo, à época, conhecimentos que mais tarde haveriam de nos servir, por toda uma vida; indelevelmente.


Essa, se impunha!


Merece o artigo definido que precede à sua honrada função e ao seu nome.
Dentre os quase jurássicos que ainda habitam por aqui, agora no crepúsculo das minhas primaveras, permito-me ao exercício do direito de eleger, restando dizer que esse icônico e generoso ser é ela:
MARIA ANTONIA BOTELHO TEDESCO, A PROFESSORA MAIÚSCULA!


Dela, ainda disse pouco, mas em seu nome, eu rendo minhas homenagens aos mestres e mestras do mundo, em especial àqueles e àquelas que me orientaram pelos caminhos da vida, até aqui.
Vida longa aos mestres que nos assistiram e àqueles virão para sustentar esse eixo monumental; que é o ensino, sendo ele a plataforma sobre a qual se mantém o mundo!

Lourival Mendes Magalhães • 21º45’53″S_52º06’19″O